No nosso mundo profissional, somos muitas vezes gatos nas suas sestas durante o dia. O “business as usual” é tão confortável e muito simplesmente deixámos de ser curiosos. Como resultado, muito embora pensemos que estamos a evitar o perigo, estamos na verdade também a perder oportunidades. Além disso, as nossas competências não estarão certamente apuradas o suficiente para quando necessitarmos delas.

A ociosidade do BI
Esta inércia intelectual torna-se particularmente visível quando consideramos a forma como os gestores usam os dados. O Business Intelligence tradicional constrói sistemas de reporting em torno de modelos que os consultores usam várias vezes em diferentes empresas. Os nossos dashboards e relatórios mostram quase sempre apenas se o negócio está a funcionar normalmente ou se existem falhas.
O objetivo passa não por nos mantermos em segurança dentro das fronteiras do que nos é familiar e confortável. Focamo-nos na execução, pelo que quando os nossos números variam muito, torna-se imperativo corrigirmo-nos e voltarmos ao caminho “normal” o mais depressa possível. Não há nem tempo nem inovação para explorar as possibilidades de um novo ambiente. Como refere o meu colega James Richardson: nas faculdades de economia, KPI pode representar Key Performance Indicator, mas no mundo real significa frequentemente ‘Kills Personal Initiative’ (Matar a Iniciativa Pessoal).
Se é inteligente ser-se curioso, então o Business Intelligence, nos moldes em que é apresentado hoje, é muitas vezes ignorante.
A tentação de não saber
A curiosidade não só o ajuda em novas situações como faz com que se torne mais esparto. Estudos recentes de Charan Ranganath (e de outros que usam máquinas de ressonância magnética) mostram que quanto mais interessante for a pergunta, maior o potencial demonstrado pelo cérebro para encontrar a resposta. O espírito de inquirição melhora a atividade em regiões do cérebro que processam dopamina: um neurotransmissor que regula o prazer e a satisfação. O aumento dá-se particularmente em situações de antecipação da resposta. Os investigadores descobriram ainda um aumento de atividade no hipocampo, uma região do cérebro que se pensa ser particularmente importante na criação de memórias.
O leitor deverá estar a questionar as minhas intenções. Ao fim de contas, não ouvimos falar de “curiosidade estagnada”, uma espécie de distração sem sentido? Recomendo-a?
Na verdade, uma das mais importantes descobertas destes estudos deve ser analisada cuidadosamente à luz do mundo dos negócios. A curiosidade é aparentemente estimulada quando já compreendemos um tema mas nos deparamos com uma falha nas informações. Quando sentimos que devemos encontrar a resposta para essa falha é quando nos tornamos curiosos.
Atenção às falhas
Desta forma, num mundo em constante mutação, se os dashboards e os KPIs são tão inalterados e seguros, podem também ser paradoxalmente perigosos… o que devemos fazer?
Uma das abordagens tem que ver com o novo campo de “Data Discovery.” As empresas implementam ferramentas de descoberta de dados maioritariamente em plataformas desktop ou mobile que em servidores de BI muito dispendiosos. O resultado? Os utilizadores podem construir e explorar as suas próprias soluções para novos problemas em detrimento de situações em que tinham que esperar por equipas de TI, responsáveis por encontrarem soluções tradicionais.
No entanto, para mim, demasiadas ferramentas de Data Discovery acabam por empurrar os problemas para longe do TI e para cima dos utilizadores, e não por permitirem soluções adequadas. Além disso, não recomendo o abandono de todas as nossas tradicionais técnicas de BI. É importante saber se tudo corre de acordo com o plano ou não. Mas conseguimos encontrar melhores soluções que com modos de visualização estáticos e relatórios. Os nossos dados, ao fim de contas, são uma representação digital das nossas operações. Se não temos curiosidade face a este tipo de informação, então nem vale a pena estarmos no mercado…
Apresento três recomendações:
Antes de tudo, assegure-se de que os seus KPIs e relatórios de nível mais elevado estão indexados a visualizações mais detalhadas, para que possa investigar anomalias mais rapidamente. Cada KPI precisa o que a especialista em informação Claudia Imhoff chama de “o botão de porquê”. Não basta saber que o problema existe – tem de se conseguir chegar à informação que o sustenta. Consegue conceber esta abordagem com plataformas de BI ou com novas ferramentas de Data Discovery.
Relatórios, KPIs e visualizações podem ser muito mais dinâmicos em si mesmos. Os gráficos revelam muitas vezes apenas uma visualização do que era relevante quando o developer os concebeu, ou o que um analista achou inicialmente que seria significativo. Os gráficos interativos, as tabelas e as visualizações KPI são melhores – qualquer utilizador pode alimentar a sua curiosidade para conceber e partilhar novas descobertas. As apps de Data Discovery são tipicamente mais ágeis neste ponto que as ferramentas e BI.
Mesmo assim, pode não ser suficiente para encorajar um envolvimento significativo com os nossos dados e o nosso negócio. Lembre-se de que a curiosidade “acorda” quando uma falha no nosso conhecimento desafia a compreensão que temos sobre um assunto. Temos pois que expor essas falhas.
Revelar o que não é visível
E pronto: aqui temos um verdadeiro desafio! Como conseguimos mostrar uma falha na nossa compreensão quando à partida não compreendemos essa falha?
O segredo passa por dar aos utilizadores o que Peter Pirolli chamou, numa adequada metáfora felina, o “odor da informação”. Refere-se a sugestões na apresentação de dados que dão a conhecer novas áreas para explorar e dados que nelas possamos encontrar.
Por exemplo, conheço uma cirurgiã que usa uma aplicação que mostra que medicamentos e tratamentos ela prescreve em cada caso. Mas a app também mostra (segmentados e em sombreados com diferentes cores) os medicamentos que não foram receitados. Este sombreado não distrai a cirurgiã quando ela tem uma questão específica com que tem de lidar. Mas a visualização adicional contínua disponível para responder à sua curiosidade quando surgirem essas falhas no seu conhecimento da matéria. Ela pode perguntar-se “por que razão não uso este procedimento?” ou “qual a razão da urgência usar diferentes analgésicos?” (Resposta: porque muitas vezes trabalham sem o histórico do doente, pelo que têm de usar o medicamento mais seguro e menos específico).
Estas investigações – por vezes divertidas, outras vezes muito sérias – constituem informação muito útil para a sua “inteligência profissional”.
Com passos de gato…
O ditado diz-nos que “a curiosidade matou o gato. A satisfação trouxe-o de volta”. Mas os gatos – sejamos honestos – têm-se saído muito bem enquanto espécie. E eu suspeito que eles consideram as doses de dopamina muito satisfatórias.
Seja semelhante a um gato no seu trabalho. Aproveite a sua curiosidade. Ou este artigo não lhe chamou a atenção?
Por Donald Farmer, que é o Vice-Presidente de Inovação e Design da Qlik para o EmpresasHoje
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