Todos conhecem Paris como sendo a cidade das luzes, ou Nova Iorque como a cidade que nunca dorme, mas será que conhecem Shenzhen, a cidade mais importante em todo mundo para a construção de componentes electrónicos?

Todos conhecem Paris como sendo a cidade das luzes, ou Nova Iorque como a cidade que nunca dorme, mas será que conhecem Shenzhen, a cidade mais importante em todo mundo para a construção de componentes electrónicos?
Há 35 anos atrás, Shenzhen era pouco mais que uma pequena vila de pescadores, olhando através do oceano, com uma certa inveja dos ricos de Hong Kong, mas com o passar dos anos, a pequena vila tornou-se na primeira zona económica da China, tentando desta forma incentivar o empreendedorismo no país.
A pequena vila cresceu para ser uma metrópole enorme, tornando-se uma das maiores cidades do planeta, sendo actualmente considerada o coração da indústria do fabrico de tecnologias. A agora cidade é considerada o lar do Hardware.
Com uma orla marítima quase tão impressionante como a de Hong Kong, o centro da cidade é um mega centro comercial, constituído por lojas das maiores marcas de tecnologias de alto desempenho a nível mundial. Estando a Apple incluída neste lote de empresas. O centro comercial ladeado por uma pista de gelo coberta, é o local onde podemos ver toda a riqueza que a tecnologia trouxe à cidade, encontramos carros desportivos e até mesmo 4×4 disputando as estradas com os autocarros apinhados nas horas de ponta.
Apesar de ser uma cidade coberta por vegetação e árvores que ladeiam as principais avenidas e os grandes edifícios públicos da cidade, Shenzhen não é uma cidade pela qual se apaixonem à primeira vista, pois devido à sua rápida urbanização, é difícil encontrar o coração que faz a cidade bater.
Este lar de empresas gigantes como a Foxconn, por exemplo, abriga ainda centenas de fábricas de menor dimensão, que produzem centenas de dispositivos tecnológicos. Durante muitos anos foi uma anónima no mercado tecnológico, cada vez mais a cidade está a tornar-se num hub para Startups de Hardware e para algumas empresas que almejam liderar o mercado das tecnologias a nível mundial.
Uma das zonas mais importantes da cidade é a zona comercial de Huaqiangbei, avenida com cerca de um quilómetro e que é constituída por inúmeras lojas de venda de dispositivos tecnológicos. Podendo encontrar muitas das maiores marcas a nível mundial.
A cidade tornou-se um ponto de interesse para quem pretende entender o complexo ecossistema das empresas de tecnologia de pequeno e grande porte, uma vez que a cidade produz milhares de dispositivos durante todo o ano. Nesta cidade consegue encontrar ainda alguns vendedores tentando angariar clientes, através de grandes altifalantes posicionados nas ruas da cidade. Sendo actualmente esta, a cidade mais rica da China.
Numa das saídas da rua Huaqiangbei pode encontrar-se um dos muitos mercados existentes na cidade, mercados constituídos mesmo por quatro ou cinco pisos, onde se vendem todo o tipo de dispositivos electrónicos, desde ecrãs para telemóveis, chips, memórias, baterias e até mesmo discos rígidos. Entre este conjunto de dispositivos podem ser encontradas cópias, dispositivos renovados e até mesmo Hardware feito localmente.
No entanto a cidade não constrói apenas componentes, graças à chamada Shanzai, já se pode encontrar aliado à construção de componentes uma preocupação estética, de modo que a gigante de Cupertino, Apple, está a pensar em mudar o seu projecto “Designed in Califórnia” para Shenzhen.
Além disto, a cidade está a explorar também o mercado dos aceleradores, estando até vários aceleradores ocidentais a explorar a experiência de construir Hardware de forma rápida e barata. Exemplo disso é o programa HAXLR8R que tem utilizado o ecossistema de produção da cidade de forma a permitir aos empresários construírem o seu projecto de inicio ao fim de uma forma rápida e barata.
Este programa consiste em enviar empresários para viver e trabalhar na cidade durante um período de 3 meses, tornando possível projectos que nos EUA teriam um custo de milhares ou milhões de dólares, terem um custo de 20 000 dólares com despesas e passagens aéreas incluídas.
“Por estar aqui e poder protótipar de forma rápida, barata e eficiente e ser capaz de construir, ao mesmo tempo que o protótipo, você vai chegar ao mercado mais rapidamente. Prototipagem é mais rápido porque você pode obter algo em 12 a 24 horas aqui.”
Cyril Ebersweiler, o fundador da HAXLR8R
Estar nesta cidade, significa que as Startups podem trabalhar com os mesmos componentes que vão utilizar no produto final, podendo encontrar de forma mais fácil fornecedores extremamente especializados. E o que isto significa? Significa que as Startups desta forma podem trabalhar muito mais de perto com os fabricantes.
Depois de alguns anos em que os fabricantes da cidade tinham a reputação de imitar e fabricar componentes de má qualidade, o fabrico evoluiu de uma forma extraordinária, tendo a Apple como influência, devido ao facto de que a empresa tem usado fabricantes nessa zona, elevando assim os padrões de qualidade dos componentes.
Zach Supalla, fundador da Startup Spark foi um dos empresários que passou pela cidade.
Já anteriormente Zach tinha tentado o lançamento de um produto através da Kickstarter, entre Janeiro e Maio do ano passado, no entanto essa tentativa não teve muito sucesso. Então decide aderir ao programa HAXLR8R e ruma à China para refazer o seu negócio.
“Nós estávamos pedindo 10 mil dólares e arrecadámos quase 600 mil dólares. A China era um lugar tão incrível para desenvolver um produto e para aprender a criar Hardware. Aprendemos muito sobre como nos mover rapidamente e desenvolver Hardware num ritmo que se parece muito com o software”
Fazendo um termo de comparação, enquanto nos EUA para construir uma placa com um circuito em três dias custa 1000 dólares, na China o valor total deverá rondar os 30 dólares.
Além deste projecto, a cidade é também o lar de algumas das maiores empresas de tecnologias chinesas, como é o caso da ZTE, Coolpad e até mesmo da Tencent, entre outras. No entanto a única que tem conseguido mais atenção a nível internacional é a Huawei.
A história desta empresa está completamente ligada à história da cidade uma vez que a marca chinesa foi criada por um ex-oficial militar por volta da década de 80. Tornando-se actualmente como a segunda maior empresa de equipamentos de telecomunicações e a terceira maior fabricante de Smartphones a nível mundial.
A empresa tem o seu campus na cidade, no entanto é num local um pouco diferente das empresas que podemos encontrar na Huaqiangbei. Este campus tem uma área de dois quilómetros quadrados, mas ao contrário de muitos outros campus de outras empresas, este tem algumas particularidades, como é o caso do clima subtropical, o ambiente e o baixo custo de habitação, podendo um quarto ser alugado desde 12 dólares por noite.
Nas suas instalações a empresa emprega cerca de 40 mil pessoas.
Uma vez que o mercado ocidental começa a atingir um ponto de saturação, ainda há muito para jogar nestes mercados emergentes, e o crescimento de empresas como é o exemplo da Huawei reflecte a mudança que está a acontecer no mercado das tecnologias a nível mundial.
E não são só as empresas chinesas que estão a olhar para os mercados internacionais, pois cada vez mais são as empresas interessadas em obter uma posição no mercado chinês.
A China é uma fonte de concorrentes para o mercado mundial, sendo o maior mercado de componentes electrónicos em todo mundo, e esta cidade é a montra de todo este universo.
Por Hugo Sousa para Empresas Hoja/strong>
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